domingo, maio 21, 2006

Irresponsabilidade Social

Parece estranho, mas quando pensamos em solidariedade logo nos vem à mente os projetos grandiosos, os prêmios Nobel Gandhi e Madre Tereza de Calcutá e outros grandes nomes, que como dizemos “fazem história”. Estamos tão acostumados a projetar as obrigações para “aqueles que estão destinados à causa de morrer pelos outros” que não vemos o quanto estamos nos anulando.
Se mirássemos o lado capitalista da coisa, veríamos que nossa responsabilidade social ficou restrita às ações de marketing (e digamos de passagem, nos é bastante cômodo). Hoje é tão simples “ajudar”, e tal ato tornou-se um câmbio: “comprando tal produto você estará ajudando as criancinhas desnutridas,“adquirindo esta mercadoria você contribui para a instituição X”. É incrível, mas a lógica do “toma-lá-dá-cá” se difundiu também no campo social, afinal, nada melhor do que “unir o útil ao agradável”. Consumo e Solidariedade, dois conceitos tão distintos passaram a caminhar lado a lado, e, o que antes era visto com cautela agora é encarado com naturalidade. Consumir é sinônimo de solidarizar-se, um artifício perfeito e econômico, bem adaptado às exigências de mercado.
A cada dia que passa ficamos mais anestesiados, e graças a essas “ações sociais” nossa consciência paira tranqüila. “Já fizemos a nossa parte”, e o que é melhor, sem despender de grandes quantias (sem retorno) do nosso merecido ordenado. Nossa conveniente cegueira nos convence de que agindo assim somos politicamente corretos. O que não percebemos é que nossa ação se limita a financiar a “solidariedade de outros”, e que muitas vezes, apadrinhar financeiramente projetos, é um subterfúgio para não encararmos a realidade ao nosso redor.
A Solidariedade é uma relação de reciprocidade, mas ainda não nos convenceu de seu retorno. Afinal trata-se de um investimento arriscado, e de retorno duvidoso se considerarmos nossa escala de valores. Que valor tem a dignidade de uma pessoa que não conhecemos? E o sorriso de uma criança que não geramos? Realmente não são retornos “dignos” de investimento, e à primeira vista parece-nos de rentabilidade zero. E é baseado nessa análise que fundamentamos nossa escusa em relação aos “seres predestinados”; a tarefa de uns é morrer pelos outros, e quanto a nós, bem... nós aderimos à grandes causas comprando camisetas de grife...responsabilidade e tanto, destinada aos seres “normais”.

6 Comments:

At 11:12 AM, Anonymous Anônimo said...

É realmente impressionante como o marketing nos faz uma espécie de "lavagem"...é bem engraçado perceber que em nossa vida acadêmica cada vez mais somos condicionados a tomar este tipo de atitude como estratégia empresarial, fazendo com que a empresa passe uma imagem de heróina e e responsável socialmente...mas as coisas não sõa bem assim...os empresários lucram milhões enquanto fazem "meia-dúzia" de coisas politicamente corretas? Será que algum dia as pessoas vão acordar?
Fernanda - Markteira e Administradora totalmente desiludida

 
At 11:15 AM, Anonymous Anônimo said...

É realmente impressionante como o marketing nos faz uma espécie de "lavagem"...é bem engraçado perceber que em nossa vida acadêmica, cada vez mais, somos condicionados a tomar este tipo de atitude como estratégia empresarial, fazendo com que a empresa passe uma imagem de "A heroína e responsável socialmente"...mas as coisas não sõa bem assim...os empresários lucram milhões enquanto fazem "meia-dúzia" de coisas politicamente corretas...Será que algum dia as pessoas vão acordar para este fato?
Fernanda - Markteira e Administradora totalmente desiludida

 
At 3:10 AM, Blogger Bernardo Tonasse said...

Mônica, eu ia comentar aqui, mas como ficou meio grande, resolvi linkar pro seu blog e comentar lá no meu. Acho que, aliás, deveríamos aproveitar muito mais o potencial hipertextual da internet. Farei isso mais vezes.

Beijos!

 
At 7:09 PM, Anonymous Anônimo said...

Acho q a questão é que cada vez que nos sentimos "socialmente responsáveis", vamos deixando que as medidas paliativas se tornem o cerne da questão. Afinal de contas, aparentemente, que mal há em darmos um lanche a quem tem fome ou apoiarmos projetos "que tiram o jovem da marginalidade"? pouco importa se na noite seguinte ele morre por um tiro, mas de barriga cheia.
De fato unimos o útil ao agradável, já que com a sensação do "dever cumprido" garantimos que pelo penos aquele infeliz do projeto social não vai nos assaltar na próxima esquina.

 
At 12:46 AM, Blogger */* Jose M. */* said...

Hola Mónica

Veo q estas preocupada de la ayuda, de los productos q ademas de satisfacer sean en pro de algo mejor, eso siempre es lo q algunos buscamos, lamentablemente no todos pensamos así, pero es muy valorable y hacen de ti una persona además de linda, muy especial, en serio, y sobretodo que mereces lo mejor, ojalá q todo te salga bien y ojalá q algun dia tenga el gusto y la felicidad de conocerte, ya hemos hablado de eso, un besito y estamos en permanente contacto

*//*Jose M.*//*

 
At 1:22 PM, Blogger Stephanie said...

Mônica,
surpresa boa te ver escrevendo. Surpresa melhor ainda é saber que vc tem um Aleph em vc, que lindo!

Pois é moça, agora sobre seu post, é realmente bizarro e lamentável que um sentimento como a solidariedade também tenha sido engolida pelo consumo. E o pior: saber que muita gente por aí acha que ao pagar algo com um selinho, usar uma camiseta, uma pulseirinha, está fazendo a sua parte. Lavando as mãos, e se sentindo bem com isso.

Até porque atitudes assim não requerem que vc encontre gente pobre, doente, crianças e idosos mal tratados. É mais fácil 'ser bonzinho' sem ter que chegar perto de quem precisa de carinho, atenção e assistência, quando há os dispostos a fazerem isso e precisam apenas de quem os financie.

O problema é que não acontece só com a solidariedade, mas também com a consciência ecológica, a noção de vida saudável. Todas essas atitudes podem ser vistas em rótulos nos supermercados por aí.

Talvez fosse o caso de assumir o próprio egoísmo e admitir a incapacidade para trabalhos voluntários, falta de tempo, coisas assim. Mas eis que a sociedade oferece paliativos para as culpas que coloca nas pessoas pelos problemas em sua estrurura.

deixa eu parar por aqui que estou viajando demais...

Beijo!

 

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